Já viu drones a transportar medicamentos urgentes? E ecografias remotas, baseadas em tecnologia robótica, em que o médico pode interagir com o paciente à distância? Já se imaginou a usar um dispositivo em casa que permite ao médico monitorizar um conjunto alargado de sinais biomédicos? E sistemas de realidade virtual nas unidades de cuidados intensivos para evitar que os doentes ali internados percam capacidades cognitivas? À primeira vista, todas estas situações parecem retiradas de um filme de ficção científica. Contudo, são exemplos de tecnologias disruptivas aplicadas em Portugal e que estão a transformar o setor da saúde no país.
A realidade virtual, a realidade aumentada, a inteligência artificial, os algoritmos de machine learning ou o 5G são exemplos de tecnologias que estão a moldar a forma como os cidadãos acedem aos cuidados de saúde e constituem um poderoso instrumento de apoio para os profissionais de saúde serem mais rápidos e precisos nos diagnósticos e nas tomadas de decisão. O resultado é uma saúde mais eficiente, na qual todos os intervenientes do sistema – pacientes, profissionais de saúde e o Sistema Nacional de Saúde – saem beneficiados.
Num contexto em que Serviço Nacional de Saúde se debate com a gestão de diversos desafios – como a falta de médicos e de técnicos de saúde, elevados tempos de espera para consultas em algumas especialidades e a elevada procura pelos serviços de urgência –, a tecnologia surge como um poderoso aliado para facilitar o acesso dos portugueses à saúde, principalmente, daqueles que vivem fora dos grandes centros urbanos e que têm de percorrer dezenas ou mesmo centenas de quilómetros para terem acesso a uma consulta de especialidade ou a terapias de reabilitação.
milhões de utentes sem médio de família atribuído
dos utentes diz que os tempos de espera são maiores
dos utentes diz que a espera piorou
dos utentes considera que o tempo de espera aumentou
considera que o SNS está, atualmente, mais vocacionado para prevenir futuras doenças com melhores meios de diagnóstico (65,4%) e medicamentos mais inovadores (44%).
Dados: Portal da Transparência do SNS; Índice de Saúde Sustentável 2022, Nova Information Management School (Nova IMS)
Mas as vantagens da incorporação da inovação na prestação de cuidados de saúde estendem-se a outros domínios – como o da prevenção.
As estatísticas indicam que cerca de 70% dos custos globais com saúde estão associados a seis doenças crónicas. Contudo, uma parcela relevante das complicações associadas a estes doentes poderia ser evitada se existisse um acompanhamento mais próximo do seu estado de saúde. É precisamente aqui que atua a Hope Care.
Esta startup portuguesa desenvolveu uma solução de telemonitorização que permite acompanhar remotamente os sinais biomédicos – como o peso, a temperatura, a tensão, a glicose no sangue ou o oxigénio – de pessoas com diabetes, insuficiência cardíaca, hipertensão ou outro tipo de patologias.
Sempre que um dos indicadores sai dentro de um intervalo normal, o sistema emite um alerta monitorizado por um profissional de saúde, que avalia a situação do doente. Com isto, previnem-se episódios de urgência e evitam-se internamentos.
Não é apenas na prevenção que a tecnologia pode ser um game changer na prestação de cuidados de saúde em Portugal. Mesmo quando não é possível evitar casos agudos – como um AVC ou um enfarte –, a tecnologia pode ser vital para salvar vidas.
Por exemplo, o Hospital de São João está neste momento a trabalhar com o INEM sobre a possibilidade de ter ambulâncias sensorizadas para fazer a monitorização e a recolha dos dados biomédicos dos pacientes.
Desse modo, quando o paciente chega ao hospital, as equipas já estão munidas de toda a informação necessária e estão preparadas para agir rapidamente e minimizar o risco de sequelas.
Um outro aspeto que importa salientar é que algumas das tecnologias que estão a ser testadas e/ou aplicadas em Portugal são únicas no mundo. No Digital Surgery LAB, da Fundação Champallimaud, por exemplo, existe uma sala pioneira no tratamento do cancro da mama: a Medical Metaverse Room. Aqui é possível criar imagens 3D do torso dos doentes através do recurso a câmaras espaciais 3D. O objetivo é aumentar a precisão do ato cirúrgico.
Pedro Gouveia, cirurgião especializado no cancro da mama na Fundação Champalimaud, explica os benefícios desta abordagem inovadora: “Estamos a utilizar as imagens médicas e colocá-las ao serviço do cirurgião quando está a operar.”
Para que muitas destas aplicações tecnológicas sejam uma realidade no campo da saúde é preciso garantir comunicações rápidas e fiáveis. As teleconsultas, a utilização massiva de sensores de monitorização para acompanhar o estado de saúde dos doentes ou as cirurgias remotas são exemplos de cuidados de saúde que só são possíveis graças aos níveis de conectividade, velocidade e qualidade que o 5G é capaz de proporcionar.
Para Owase Jeelani, reputado neurocirurgião pediátrico do Great Ormond Street Hospital, que esteve recentemente em Portugal a convite da NOS, o 5G é uma das tecnologias com potencial para gerar um maior impacto na saúde global.
“Para mim o data e o machine learning são tecnologias que vão fazer uma grande diferença em termos de maior eficiência dos sistemas de saúde e para sabermos quais são as terapias mais eficazes e aquelas que não resultam. A conectividade é também um ponto importante porque permite a partilha do conhecimento e da experiência por diferentes geografias”, explicou.
O neurocirurgião pediátrico Owase Jeelani foi um dos participantes da conferência Saúde 5G, no Palácio Xabregas, em Lisboa. É especialista na separação de gémeos siameses recorrendo a tecnologias inovadoras. No ano passado, liderou a equipa que operou gémeos siameses no Brasil que estavam ligados pela cabeça.
Através do recurso à realidade virtual, as equipas médicas no Rio de Janeiro e em Londres puderam simular, testar e planear este procedimento cirúrgico complexo.
Para este especialista, a implementação da tecnologia na saúde é indispensável para ajudar a diminuir as assimetrias de recursos e conhecimento em saúde do mundo.
A execução foi muito mais fácil e mais segura devido a todas as simulações e cenários que simulámos previamente em realidade virtual.
NOS mostra aquilo que de melhor se faz em tecnologia na saúde em Portugal
Reunir no mesmo espaço startups que desenvolvem soluções inovadoras na área da saúde, médicos e decisores hospitalares, engenheiros, investigadores e investidores, para juntos perceber qual o papel social da tecnologia na saúde em Portugal. Este foi um dos objetivos da conferência Saúde 5G, promovida pela NOS e realizada a 17 de maio. O encontro serviu não só para divulgar algumas das melhores soluções tecnológicas em saúde desenvolvidas por portugueses, mas também abordar os desafios que se perfilam no horizonte para a massificação da utilização deste tipo de tecnologias.
Esta iniciativa surge da importância que a NOS reconhece sobre o efeito catalisador que a tecnologia 5G pode exercer na transformação da saúde em Portugal e para reforçar a humanização dos cuidados de saúde.